sexta-feira, 18 de maio de 2012

A parede de cristal (capítulo 3)

Finalmente consegui terminar o capítulo 3, espero que gostem!



Capítulo 3- Exception


Todos os tripulantes da nave estavam vestindo uma roupa refletora e espelhada, cujo tecido parecia elástico e ao mesmo tempo muito resistente. As máscaras que os protegiam de qualquer gás venenoso eram transparentes e pareciam ser muito simples e confortáveis, diferentemente das roupas que os astronautas usavam antigamente. 

Dois homens de roupa branca adentraram a nave empurrando o que parecia ser uma máquina estranha encoberta por um tecido prateado. Logo depois, eles voltaram e desceram da nave de mãos vazias. 

Por fora, Exception parecia uma esfera maciça de aproximadamente 100 metros de diâmetro acoplada num grande foguete, mas por dentro, era constituída por três ambientes distintos. O primeiro era um espaço vazio, onde os cientistas ficariam acomodados. O segundo era cheio de máquinas e tubos translúcidos de quase 3 metros de altura. O terceiro era uma sala parecida com um laboratório, repleta de computadores, fios e aparelhos pequenos que poucos saberiam identificar sua serventia. 

General Wolf caminhava de um lado para outro sempre acompanhado por um homem de barba branca. Seu nome era Grell Mozart. Ele era o chefe de todos que se encontravam ali, até mesmo do general. Aparentava ter uns 65 anos, era baixo e gordo. Seu olhar mostrava uma confiança exagerada. 

Grell Mozart foi responsável por grandes contribuições na área de astrofísica e física nuclear, sua personalidade era astuta e exageradamente animada. 

-É bom saber que chegaremos a Babylon em sete dias!- comentou animado o general Wolf. 

-Sim, foram muitos esforços de vários cientistas ao redor do mundo. Conseguimos superar a barreira do espaço-tempo e hoje poderemos abrir um portal para chegarmos mais rápido à galáxia Masthodon! -respondeu Grell com entusiasmo. 

-Meu irmão ficaria feliz... -falou Wolf com a voz um pouco trêmula. 

-Sinto muito pelo seu irmão, general, minha esposa também foi morta em 2012... Estávamos casados há apenas um mês... Naquela época, éramos muitos jovens, ficamos desesperados e não tínhamos a menor ideia do que fazer... Apenas fugimos, mas isso não foi suficiente para salvar minha querida Ellen - disse Grell, tentando consolar o general. 

-É, eu sei bem o que sentiu... -sussurrou Wolf com o olhar distraído, suspirando logo em seguida. 

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, cada um com o olhar perdido, relembrando os momentos tristes do passado. 

-Espero que meus 30 soldados sejam suficientes... -falou Wolf, mudando completamente de assunto. 

-Não se preocupe, tenho 40 cientistas aqui, cérebro é mais importante do que força bruta! - replicou Mozart num tom brincalhão. 

-Acha mesmo que eles não vão revidar? -perguntou o general, observando com atenção cada milímetro do interior da nave. 

-Se fizermos tudo de acordo com o plano, eles não vão ter tempo para fazer nada contra nós! –respondeu Mozart com sua voz entusiástica e cheia de confiança. 

-Ainda tenho a impressão que estamos subestimando-os... - disse Wolf, verificando um dos tubos gigantes com as pontas dos dedos. 

“ATENÇÃO: AQUELES QUE ESTIVEREM SEM PROTETORES DE OUVIDO, POR FAVOR, RETIREM-SE DO LOCAL, REPITO, AQUELES QUE ESTIVEREM SEM PROTETORES DE OUVIDO, EVACUEM DO LOCAL. A NAVE SERÁ LANÇADA EM 5 MINUTOS.” 

Depois do aviso, muitos dos repórteres tiveram que se afastar da plataforma, outros, que surpreendentemente levaram protetores de ouvido, puderam observar o foguete ganhar altura a uma distância de aproximadamente 500 metros da base de lançamento. 

Todos os cientistas observavam e ouviam a contagem regressiva. 5...4...3...2...1... O foguete saiu da terra com o impulso flamejante, deixando um rastro gigante de fumaça branca pelo céu azul. Foi um lançamento perfeito, sem nenhuma complicação. Houve uma grande comoção e todos os cientistas comemoraram com gritos, pulos e abraços de felicitações pelo projeto bem sucedido. Stuart bateu palmas e Marcus apenas sorriu. Enquanto isso, David e Erin apenas se encaravam com expressões vazias. 

Após ultrapassar a atmosfera terrestre, os satélites puderam registrar o momento exato em que o foguete desprendeu-se da nave. A esfera maciça se abriu e de lá saiu uma enorme nave em direção à galáxia Masthodon. Exception foi projetada para criar um grande buraco negro e literalmente ser “sugada” por ele. Isso permitiria economizar os milhões de anos-luz que levariam para chegar à Babylon. 

Povos de todos os países e etnias acompanhavam esses acontecimentos através das modernas televisões, rádios, internet e também pelos mais novos transmissores digitais de 2053 espalhados pelas ruas e avenidas do mundo. Smart City era o centro de todas as atenções. 

As opiniões se dividiam, enquanto alguns estavam alegres e ansiosos pela grande conquista, outros estavam revoltados por causa dos boatos de que essa “expedição” seria na verdade um ataque surpresa aos babilônios, o que poderia ocasionar um grande problema se as coisas falhassem. 

David e Erin continuavam calados em seus assentos atrás de Marcus e Stuart. Ambos demonstravam expressões enraivecidas. 

-Parece que todos já têm certeza de que Exception é uma arma de guerra que vai acabar com a raça dos aliens... -falou Erin, deixando transparecer um pouco de amargura. 

-Nem me fale... Não acredito que trabalhei tanto tempo para esses desgraçados usarem os meus esforços numa guerra maldita! -resmungou David, totalmente revoltado com aquela situação. 

-Infelizmente é assim que as coisas funcionam... A guerra financia nossos projetos e em troca, nós ajudamos a fazer mais guerra! -retrucou Erin inconformado. 

Enquanto isso, Marcus e Stuart conversam entre si. Johnson ainda parecia apreensivo, porém Marcus exibia um sorriso de orelha a orelha. 

-Que maravilha! E não é que tudo correu bem! Em sete dias Exception estará aterrissando na superfície do planeta Babylon, não é incrível?- disse Marcus, empolgado e sorridente. 

-Isso é o que me preocupa... Grell me pareceu confiante demais... O que faremos se algo de errado acontecer? -perguntou Stuart, enxugando o suor frio de sua testa com um pequeno lenço de papel. 

-Não se preocupe antes do tempo, senhor Johnson! E além do mais, esse alarde todo que a mídia está fazendo só tem nos trazido mais benefícios, nunca na história da ciência um centro de pesquisa foi tão bem recompensado pelos seus projetos! 10 milhões só este ano! E ainda estamos em abril! - disse Marcus, com um brilho estranho no olhar. 

-Mas e se o plano falhar...? Não quero nem pensar no que pode acontecer! Temos 70 pessoas naquela nave! E se Exception não voltar, o que faremos? -perguntou Stuart meio atordoado, com uma voz rouca e insana. 

-Já disse para não se preocupar... Temos que pensar positivo, tudo vai dar certo! E além do mais, temos dinheiro o bastante para compensar as possíveis perdas... -falou Marcus, dando um tapinha nas costas de Stuart. 

David prestava atenção na conversa dos dois. Seu ódio foi aumentando até um ponto que já não dava mais pra aguentar. Ele resolveu se levantar de sua cadeira e se aproximar do chefe do departamento e seu assistente. 

-Por que não nos contaram a verdade? -perguntou David, atropelando-se nas palavras. 

-Como assim?- perguntou Marcus, com uma expressão calma e fazendo-se de desentendido. 

- Por que não nos contaram que estavam planejando uma guerra entre planetas?-grasnou David, aumentando cada vez mais o tom de voz. 

-Guerra? Quem aqui está falando em guerra? São só boatos da mídia! Quem acredita nesse absurdo? -replicou Stuart. 

-ENTÃO TUDO ISSO É SÓ PARA CHAMAR ATENÇÃO E CONSEGUIR DINHEIRO? NÃO ACREDITO QUE SEJA SÓ ISSO, AFINAL, O SENHOR ESTÁ PREOCUPADO COM O QUE PODE VIR A ACONTECER SE O TAL PLANO DER ERRADO! AO CONTRÁRIO DESSE SEU ASSISTENTE INTERESSEIRO QUE ACHA QUE UMA VIDA HUMANA PODE SER COMPENSADA COM DINHEIRO!-gritou David, já ficando ofegante. 

Marcus encarou David e começou a gargalhar. 

-HAHAHAHAHAHA! Que piada! Um cientistazinho de merda que comete erros e mais erros querendo tomar satisfação com o chefe do departamento! -debochou o assistente, deixando David vermelho de tanta fúria. 

Erin levantou-se de seu assento e tentou puxar David de volta a seu lugar. 

-Deixe-me Erin!- grasnou David, aborrecido. 

Erin segurou os braços de David e tentou impedi-lo de avançar em Marcus. 

-Erin, é melhor você segurar esse seu amiguinho, afinal, ele não tem um tio-avô tão importante quanto o seu! -debochou Marcus, sorrindo maliciosamente. 

-O que você disse?-perguntou Erin, e o sangue ferveu em suas veias. – O QUE VOCÊ DISSE? SEU CANALHA! -Erin soltou David e ele mesmo avançou em Marcus, dando-lhe um soco no meio da cara.

-ISSO É PARA VOCÊ APRENDER A NÃO SER TÃO IMBECIL, INVEJOSO E CANALHA!-gritou Erin, ainda ameaçando dar outro soco no assistente júnior. 

A maioria dos cientistas que estava por perto observava com horror toda aquela confusão, até que um deles resolveu chamar os seguranças, que rapidamente correram até o local e imobilizaram David e Erin. Por coincidência, um dos seguranças era o mesmo que recebeu os desafetos de David quando invadiram o laboratório 513. 

-SOLTE-ME! -gritou David, empurrando o segurança de uniforme azul. 

-Sinto muito, senhor, mas só estou fazendo bem o trabalho pelo qual sou pago!-respondeu o segurança, encarando David de uma forma orgulhosa. 

-Muito engraçado... -riu David ironicamente. 

Stuart ordenou aos seguranças que os levassem de volta ao laboratório. 

-Erin, sinto muito, mas seu tio-avô ficaria muito decepcionado se eu tivesse que demiti-lo... Espero sinceramente que isso não se repita! -falou Johnson, enquanto David e Erin se afastavam em direção ao túnel, escoltados pelos seguranças. 

Quando chegaram ao laboratório, os seguranças empurraram os dois para dentro da sala e fecharam a porta com força, fazendo um barulho incômodo aos ouvidos. David quase caiu em cima da mesa de Erin, enquanto isso, Erin bufava de tanta raiva. 

-AQUELES DOIS DESGRAÇADOS, OUVIU O QUE O VELHO JOHNSON DISSE? “SEU TIO-AVÔ FICARIA MUITO DECEPCIONADO SE EU TIVESSE QUE DEMITI-LO”. AQUELE FILHO DE UMA... –grasnou Erin totalmente fora de si. 

-Você está bem, Erin? Nunca te vi tão nervoso desse jeito! -perguntou David, mostrando-se preocupado com o amigo. 

Erin respirou fundo e tentou se acalmar, caminhou até a mesa e sentou-se em sua cadeira. 

-Você tem razão... Acho que perdi o controle por um momento... Mas é sempre assim, nunca me dão mérito por nada! Eu me esforcei pra estar aqui! Você sabe disso, não é? Fizemos faculdade juntos! Eles não tem o direito de achar que eu só estou aqui por causa da influência do meu tio-avô! -falou Erin inconformado. 

-Eu sei... Isso também acontece o tempo todo comigo... Estamos no mesmo barco... –respondeu David num tom entristecido. 

-Não tenho culpa se meu tio-avô é o governador do Texas!-grasnou Erin, levando as mãos ao rosto e ficando em silêncio depois disso. 

David quis falar algumas palavras de consolo para seu amigo, mas resolveu ficar algum tempo em silêncio. Pouco tempo depois, pareceu recordar algo. Seu olhar ficou estranho e distante.

Subitamente, começou a falar: 

-O caminho... O caminho poderia continuar reto, mas não, tem de haver curvas, distorções, algo que não torne as coisas tão simples e lineares... Há buracos na estrada, vidas que se desencontram e destinos que se cruzam, tudo parece tão difícil e insuportável que só o fato de pensar que tudo pode acabar algum dia nos traz um pouco de alívio e conforto, quase como se desejássemos a morte... 

-M-Mas que diabos você acabou de falar?-perguntou Erin, tirando as mãos do rosto e olhando assustado para David. 

-A garota me disse... -respondeu David, com um olhar ainda mais distraído e sonhador. 

-Que garota?-perguntou Erin, muito confuso, olhando para David como se ele tivesse ficado maluco. 

David ficou pensativo e começou a rir. 

-Desculpe, acho que escolhi uma hora errada para falar essas coisas... É que ontem eu tive um sonho esquisito... Uma garota, quer dizer, acho que era uma garota, não deu pra ver direito, estava tudo embaçado... -falou David, puxando pela memória. 

-Espera aí, explica isso direito, cara, você está me assustando!-disse Erin, mostrando-se ainda mais confuso. 

-Ontem eu tive um sonho em que uma voz de uma garota me falava essas coisas que eu acabei de dizer pra você, estava tudo embaçado e não deu para ver o rosto dela, mas eu percebi que ela tinha um cabelo estranho... -continuou David, ainda puxando pela memória e entrelaçando as mãos. 

-Estranho como?-perguntou Erin, ajeitando-se em sua cadeira e mostrando-se interessado no assunto. 

-De uma cor... De uma cor... Prateada... -falou David, sem ter muita certeza do que acabara de dizer. 

-Que maluquice é essa? Hehehehe Pelo menos você me fez esquecer aquele desgraçado do Johnson e o capacho dele!- debochou Erin, começando a rir daquela situação estranha. 

-Não te falei desses sonhos antes por que sabia que você iria rir de mim!-replicou David, fingindo-se magoado. 

-Desses sonhos? Quer dizer que você teve mais de um?-perguntou Erin. 

-Já faz algum tempo que eu sonho com essa mesma garota, e o que me deixa mais intrigado é que não consigo ver o rosto dela... É muito estranho, parece que existe uma... Uma parede... Uma parede quase transparente, mas que não me permite ver direito... -disse David, suspirando e mostrando-se decepcionado. 

-Acho que depois de tanto tempo sem ver a luz do sol, os raios ultravioletas acabaram fritando o seu cérebro hoje!-debochou Erin, soltando uma gargalhada. 

-Ah Erin! Pare com essas suas brincadeirinhas de mau gosto, isso é irritante!- falou David enraivecido. 

-Calma aí, ultimamente você anda muito estressadinho, na verdade, nesses últimos dias você... Espera aí, será que esse seu estresse todo é por causa desses sonhos estranhos?-perguntou Erin, deixando de lado seu sorriso e ficando sério. 

-Talvez sim, é muito frustrante! Quero ver o rosto dela, mas não consigo! Ela me fala sobre o destino, sobre a morte e um monte de coisas estranhas... Como você acha que eu me sinto? Às vezes parece que ela quer que eu a ajude de alguma forma!-disse David, levando as mãos à cabeça como se quisesse arrancar os próprios cabelos. 

-Todos os dias sonhando com alguém que você não tem a mínima ideia de quem seja... E ainda por cima uma pessoa que fala sobre morte...? Acho que se fosse eu já estaria louco! -falou Erin, mostrando seriedade e preocupação em seu tom de voz. -Talvez seja a hora de você procurar um médico! 

-NÃO! Eu tenho que ficar aqui! Tenho que esperar Exception voltar! Não posso me dar ao luxo de ficar maluco agora, preciso me controlar, afinal, não sabemos o que Marcus e Stuart estão planejando! 

-Por um lado você tem razão, mas o que nós dois podemos fazer? Marcus com certeza deve está planejando algo contra mim, se eu fizer mais alguma coisa errada, ele dará um jeito de convencer Johnson a me demitir! E você? Sabe muito bem que se tivesse sido você o agressor de Marcus, já teria sido expulso daqui a pontapés!-argumentou Erin. 

-Eu sei, mas sinto que devo ficar pelo menos até a nave voltar... –respondeu David, suspirando depois. 

-Vamos torcer para que ela volte... -falou Erin, desviando o olhar para um tubo de ensaio em cima de sua mesa. 







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