domingo, 29 de abril de 2012

A Parede de Cristal (capítulo 2)

Olá pessoal! 
Mais um capítulo da minha "louca historinha" para vocês!




Capítulo 2 - A plataforma de lançamento

Depois de duas horas de muito trabalho, os seguranças tiveram que trabalhar ainda mais. A ansiedade tomava conta de todos os presentes naquele lugar, de jornalistas a funcionários, todos queriam saber o verdadeiro motivo daquela convocação de uma coletiva de imprensa. O auditório, além de amplo, era bastante frio e iluminado, o palanque se encontrava no canto do lado direito, bem longe da porta de entrada. Muitos jornalistas retardatários ainda tentavam entrar, porém já não havia espaço que pudesse ser ocupado por uma só pessoa. 

O barulho intenso tornou-se silêncio de repente. Os repórteres avistaram alguém vindo pelo corredor escuro. Ao lado de um homem mais velho, estava um rapaz que aparentava ter uns 27 anos. O rapaz subiu os degraus do palanque e falou ao microfone: 

-hu-hum... Desculpem fazê-los esperar, acho que a maioria das pessoas que se encontram aqui deve estar cansada, então, sem mais delongas, chamo aqui o chefe do departamento de investigação e desenvolvimento de estruturas espaciais, Stuart Johnson! 

Após pronunciar essas palavras, Marcus se afastou do palanque e deixou o microfone livre para que Stuart começasse a falar. 

O velho cientista estava vestido num terno cinza claro, que combinavam com seus cabelos branco-acinzentados. Ele fez um gesto de agradecimento a Marcus e se aproximou do microfone. Stuart sempre fora um homem muito polido e educado, porém, toda essa educação era apenas uma máscara para seu temperamento nada agradável. 

-Bom, primeiramente, quero dizer que sinto muito por ter pegado todos vocês de surpresa com essa notícia. Sei que é muito chocante saber que a nave Exception está pronta para ser mandada ao planeta Babylon sem nem ao menos ter divulgado detalhes... - começou Johnson, e imediatamente foi interrompido. 

-Senhor Johnson, o nome da nave é Exception? Porque ela se chama assim?-Perguntou um dos repórteres. 

-Senhor Johnson, quando a nave será de fato lançada ao espaço?-Perguntou outro jornalista. 

-Sim, sim... Responderei todas as perguntas, mas, por favor, uma de cada vez... -resmungou Stuart meio aborrecido. -Respondendo à primeira pergunta, sim, a nave chama-se Exception, nós a batizamos com esse nome por que depois de muitas tentativas, ela foi a única que deu certo, por isso é uma exceção... 

-Desculpe interrompê-lo, senhor Johnson, mas gostaríamos muito de saber se os rumores de que o governo planejava fazer dessa nave uma arma de guerra contra os alienígenas que atacaram a Terra em 2012 são realmente verdadeiros! -indagou uma repórter com o logotipo da CNN em seu microfone. 

-São boatos sem fundamento! Não estamos aqui para falar de coisas absurdas! –retrucou o velho cientista, de um modo ríspido. - Continuando com as respostas das perguntas anteriores, devo dizer que Exception será lançada hoje ao meio dia. 

-MEIO DIA?-gritou indignado um dos jornalistas. 

-Como assim meio dia?-perguntou a repórter da CNN. 

-Senhor Johnson, porque só fomos avisados no último momento?-perguntou um jovem repórter de cabelos ruivos. 

O alvoroço se alastrou pelo lugar, todos os jornalistas, câmeras e funcionários que ainda não sabiam dessa notícia se puseram a conversar entre si fervorosamente, muitos se dirigiam à Stuart fazendo perguntas, porém, as inúmeras vozes se confundiam e não se podia entender nada do que diziam. Stuart ficou apreensivo, zonzo, assustado e desesperado com aquele barulho infernal. Para ele, só havia uma única coisa a fazer naquele momento: 

-CALEM A BOCA! –gritou Stuart, e seu esforço foi tão grande que ele parecia estar prestes a ter um colapso. 

Todos se calaram. Um silêncio mórbido se espalhou pelo lugar. Stuart estava passando mal e Marcus correu para acudi-lo, porém, mesmo sem ar, Johnson continuou de pé em frente ao microfone: 

-Ao meio dia! Ao meio dia Exception estará nos céus rumo à Babylon! -grasnou Johnson ainda com falta de ar e pondo a mão no peito. 

-Senhor Johnson, é hora de sair daqui, o senhor não está bem, vamos... -disse Marcus, apoiando o braço de Stuart em seu ombro, e o velho já cambaleava. 

-Sim, eu irei, meu peito dói... Maldita imprensa... -disse Johnson quase sem fôlego, caminhando em direção ao corredor e apoiando-se em Marcus. 

A balbúrdia da imprensa continuou, porém, desta vez, os seguranças impediram os repórteres de se aproximarem do corredor. Eles formaram uma barreira humana de forma que nenhum repórter podia atravessá-la. 

Na entrada do corredor estavam dois rapazes de jaleco e cabelos desarrumados, um deles usava óculos, e o outro era negro de olhos azuis - esverdeados. Marcus e Stuart pararam em frente aos dois. 

-Como vai, Erin? Quase não temos nos falado ultimamente. -perguntou Marcus, fingindo ser cordial. -Infelizmente nossa conversa será mais uma vez adiada, como você pode ver, estou ajudando o senhor Johnson a voltar para seu escritório. 

-Ah! Claro, não se preocupe, logo conversaremos, tenho certeza! Melhoras, senhor Johnson!-respondeu Erin, com um sorriso falso no rosto. 

-Obrigado, Erin. -agradeceu Stuart com uma voz rouca, quase caído nos braços de Marcus. 

Marcus e Stuart se afastaram e adentraram na sala do chefe do departamento. Enquanto isso, David e Erin os observavam com expressões falsamente cordiais. 

-Desde quando você e o assistente do chefe são tão íntimos?-perguntou David, num tom irônico, ao mesmo tempo em que levava a mão ao queixo como se quisesse fingir estar pensativo. 

-HAHAHAHAHAHA! Íntimos? Nós não somos nem um pouco íntimos! -respondeu Erin num tom de deboche, deixando David com uma expressão confusa. 

-Ele parece ser bem cuidadoso com o chefe... -disse David, esticando o pescoço na direção da sala do chefe do departamento. 

-Ele é um falso, isso sim! O desgraçado pensa que eu não sei que ele é um interesseiro de marca maior! Ele só está esperando que o Sr. Johnson morra para tomar seu lugar!- falou Erin com uma voz raivosa e intolerante, e o mau humor tomou conta de si. 

-E vocês se falam desde quando? 

-Desde que ele soube que eu sou o sobrinho-neto do governador do Texas! -respondeu Erin enfurecido. -Ele nem olhava pra mim antes disso! Mas depois que o Sr. Johnson contou pra ele quem era o meu tio-avô, o desgraçado começou a me tratar como se eu fosse um rei! 

-Agora entendo por que você o chamou de falso e interesseiro, não era para menos... 

David e Erin caminharam pelo corredor até chegarem ao túnel que dava acesso à plataforma de lançamento, nenhum dos dois parecia muito animado com a notícia de que a nave seria lançada ao meio dia. 

-Ainda faltam três horas para o lançamento, o que vamos fazer lá fora? –Perguntou David, sem nenhum ânimo na voz e com os ombros caídos. 

-Acho que você quis dizer o que você vai fazer lá fora! –Respondeu Erin com um sorriso malicioso no rosto. 

-Como assim? 

-Ora, meu caro amigo David, seis meses sem ver a luz do sol e você ainda me pergunta “como assim?”, não se faça de bobo, você precisa aproveitar esse momento de folga e extravasar! 

-Erin, não me venha com as suas ideias malucas! Eu não estou nem um pouco animado hoje! 

-Tenho pena de você... Não sabe aproveitar o que a vida tem de melhor... 

Há poucos passos do fim do túnel, já era possível sentir o frescor da primavera. Os ventos acariciavam as máquinas gélidas que ali se encontravam. David sentiu seus olhos incomodados ao fazerem seus primeiros contados com a luz do sol. Depois de seis meses vendo apenas luzes artificiais, aquele clarão ofuscante trazia consigo uma sensação que há muito tempo o jovem rapaz não sentia, uma sensação de liberdade. 

-Não ouvi você reclamando depois que chegamos... -Falou Erin, escondendo seu sorriso malicioso. 

-Eu tinha me esquecido... O céu... É muito bonito e tão azul... -suspirou David, parecendo extasiado com a visão do firmamento sobre sua cabeça. 

-Cara, se fosse há seis meses, acho que você estaria zombando de si mesmo pelo que acabou de dizer! –disse Erin, não conseguindo mais esconder sua vontade de rir. 

-Talvez o lançamento dessa nave não seja algo tão ruim... –falou David, inspirando profundamente. -Esse cheiro... É tão bom, lembra a minha infância, o cheiro da liberdade! 

-hehehehe Acho que você pirou de vez! Está parecendo um condenado que acaba de sair da prisão! -debochou Erin, e não recebeu nenhum olhar repreensivo de David, que parecia não estar prestando mais atenção no que o seu amigo dizia. 

-Eu tinha me esquecido o quanto é bom estar aqui fora... 

-Então vamos aproveitar! -Falou Erin, abrindo os braços e olhando para o céu. 

Os dois cientistas passearam pela base, porém, Erin ficou irritado por David não querer sair daquele lugar e ir para o bar mais próximo. 

-Mas lá tem garotas!-insistiu Erin, no intuito de convencer David. -Temos mais de uma hora livre! Vamos! 

-Já disse que não quero sair daqui!-respondeu David, e pela décima vez sua resposta era negativa. 

-Por quê? –perguntou Erin, insistindo ainda mais. 

-Estou desacostumado com a vida aqui fora... Se você me levar para um bar, não sei o que posso ser capaz de fazer!-respondeu David meio impaciente, com as mãos enfiadas nos bolsos do jaleco. 

-Você é um fraco mesmo... –retrucou Erin enviesado. 

Depois de três horas dando voltas ao redor da base de lançamento, observando diversas pessoas se aproximarem do local e serem expulsas pelos seguranças, David e Erin sentaram-se na bancada onde os cientistas ficariam para ver de camarote o lançamento da nave. 

Stuart e Marcus sentaram-se à frente deles, desta vez, Marcus não os cumprimentou, apenas conversava com Johnson como se o velho fosse o único ser da face da terra. 

Depois de todos os preparativos e confusões da imprensa com os seguranças, Exception estava pronta par ser lançada. 

“Muitos não acreditavam que esse dia chegaria, mas sim, ele chegou! Exception, como é chamada a nave construída pelos cientistas e engenheiros de Smart City, será finalmente lançada ao espaço rumo à Babylon, isso mesmo que vocês ouviram, Babylon finalmente será explorado pelos humanos, finalmente saberemos os motivos dos ataques de 2012! Estamos todos apreensivos e também curiosos para saber se os boatos sobre a bomba nuclear são verdadeiros. Será que os Terráqueos vão mesmo se vingar dos Babilônios? Três horas atrás, numa pequena entrevista, Stuart Johnson, antes de passar mal, revelou que a nave seria lançada ao espaço hoje e negou que a mesma fosse algum tipo de arma de guerra contra os babilônios. Entretanto, ao passar mal, Johnson deixou muitas dúvidas não esclarecidas, como por exemplo: Porque tanta demora na construção dessa nave? E por que não avisaram ao público com antecedência que a nave seria lançada hoje? Muitos mistérios cercam essa viagem espacial, nenhum nome foi divulgado, não sabemos quem estará a bordo rumo ao planeta que destruiu metade de nossa espécie e infelizmente, graças a esse aviso de última hora, não tivemos a chance de investigar. Aqui fala Natalie O’Connors , repórter da CNN Texas.” 

Grande parte dos repórteres estava divulgando ao vivo o repentino lançamento de Exception ao espaço, Stuart não parecia nada contente com todo aquele alarde, o medo se mostrava evidente em seus olhos e, além disso, ele não parava de se mexer em seu assento. 

Os tripulantes já estavam subindo a plataforma em direção à nave. Os repórteres e jornalistas se esticavam, alguns usando binóculos, para enxergar e quem sabe reconhecer qualquer um dos tripulantes. Todos pareciam ser desconhecidos, porém, o repórter de cabelos ruivos reconheceu um homem mais alto e forte em meio aos outros. 

-GENERAL WOLF CALLENDER! -Gritou o repórter, apontando para um canto da plataforma. 

Todos os outros jornalistas que estavam próximos se viraram e esticaram o pescoço para tentar enxergar o general no meio dos tripulantes. 

-Ali! Eu vi! Eu vi! –Alarmou outro repórter, apontando. 

Não demorou muito tempo até que fosse realmente confirmada à presença do general Callender naquele lugar. Wolf era muito famoso e considerado um herói pela maioria dos americanos. Especializado em táticas de guerra, depois que os Estados Unidos venceram a guerra contra a China em 2034, Wolf foi condecorado pelos seus grandes feitos em benefício ao país, e muitos afirmavam que sem ele, os EUA não teriam saído vitoriosos. Um homem vivido e experiente, de personalidade forte e extremamente conservador, Wolf Callender havia perdido seu irmão mais novo na tragédia de 2012, e desde então, não descansou até que pudesse se tornar o melhor soldado que já existiu. 

Stuart estava muito apreensivo, olhava para os lados e via os jornalistas tentando ultrapassar as barreiras de segurança para lhe dirigirem mais perguntas embaraçosas. Mesmo com os empurrões dos seguranças, ainda se podiam ouvir perguntas intercaladas: 

-Senhor Johnson, porque o General Wolf Callender fará parte dos tripulantes da nave? Ele vai usar suas táticas de guerra para destruir os babilônios? 

Johnson fingia não escutar. Porém, David e Erin, que estavam próximos, também ouviam as perguntas. 

-Ouviu isso, Erin? –perguntou David, surpreso. -Acha que é verdade? O general Wolf vai à Babylon? 

-Sim... Eu já sabia... -respondeu Erin completamente calmo. 

-O QUÊ? Se você já sabia, porque não me contou? 

-Você não iria acreditar em mim... 

-Mas isso é absurdo, por que esse homem vai à Babylon? -perguntou David inconformado. 

-Você sabe muito bem qual a minha opinião sobre isso... Vingança, meu caro... - Respondeu Erin com aquele velho tom irônico. 

David solta um suspiro cheio de indignação. 

-Isso é burrice. Nós não sabemos nada sobre esse planeta e seus habitantes... Como vamos destruí-los? Sério? -continuou David, receoso. 

-Bom, somos apenas meros cientistas trabalhando incessantemente e não sabemos qual o verdadeiro propósito disto... Talvez eles saibam mais do que nós... -retrucou Erin num tom de voz mais baixo, apontando discretamente para Marcus e Stuart. 

-Agora não duvido de mais nada... -afirmou David. 





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